
A carreira com a Evonik se encerrou depois de 27 anos. No final de 2016, aceitou um convite para atuar em uma das maiores distribuidoras de produtos químicos da américa latina, a GTM Holding. A ideia era que ele se mudasse para Houston nos EUA para assumir o posto de COO. Mas os planos sofreram uma guinada radical em abril, quando a GTM comprou a quantiQ – a principal distribuidora de químicos do Brasil – por R$ 550 milhões. Nesse processo Berges acabou se tornando o CEO da GTM, que migrou sua sede negocial para a cidade de São Paulo.
Ele conversou com BiodieselBR.com sobre os próximos passos da GTM e da quantiQ.
BiodieselBR.com – Então você está de volta ao Brasil. Ficou com saudades?
José Berges – É isso mesmo. Não dá para ficar longe desse país (risos).
BiodieselBR.com – Você está aqui por que a GTM comprou uma empresa conhecida do mercado brasileiro de biodiesel, a quantiQ. O setor pode esperar alguma mudança com o novo dono?
José Berges – Eu acho que sim. A quantiQ é muito boa em processos e organização. O centro de distribuição deles em Guarulhos é uma coisa fantástica, o melhor que eu já vi no mundo inteiro. Só que eles tinham um acionista que não entendia direito o negócio de distribuição química até porque esse nunca foi o core business da Braskem. Isso acabava fazendo com que muitas ideias da equipe da quantiQ não fossem para frente por falta de apoio interno. Como a GTM conhece o negócio de distribuição muito bem. Isso quer dizer que teremos como contribuir para melhorar o serviço prestado pela quantiQ tanto para as representadas quanto para os compradores. Também temos condições de prestar um apoio muito melhor no que diz respeito à logística movimentando produtos de fora que hoje não temos aqui no Brasil e levando coisas do mercado brasileiro para outros países. Acho que essa combinação da força da quantiQ em processos e organização com o espírito empreendedor da GTM dá samba.
BiodieselBR.com – Como era a atuação da GTM aqui no Brasil antes da aquisição da QuantiQ?
José Berges – A gente tinha apenas um pequeno escritório no Rio de Janeiro completamente focado no mercado de Oil & Gas que é nossa divisão especializada em químicos utilizados em campos de óleo e gás. Essa é uma atividade relativamente forte da GTM em outros países e era a única que tínhamos aqui no Brasil.
BiodieselBR.com – Agora com a quantiQ, como vocês vão atuar no mercado de biodiesel?
José Berges – Sobretudo, através do fornecimento de metanol. Em outros países, a gente também atua vendendo soda caustica que é usado não só apenas como catalisador, mas, também, nos processos de tratamento de água das usinas de biodiesel. Devemos começar a trabalhar com soda dentro de pouco tempo aqui no Brasil.
BiodieselBR.com – O metanol da quantiQ é uma parceria com a Methanex, certo?
José Berges – Exato. Desde 2014, a gente tem uma parceria forte com a Methanex cuidando das vendas e distribuição de metanol no mercado do Brasil e também no Peru. Vendemos metanol para qualquer aplicação, mas o biodiesel é, de longe, a mais importante.
BiodieselBR.com – Tivemos casos recentes de venda nos postos de combustíveis de metanol no lugar do etanol. Como vocês, enquanto fornecedores de metanol, veem essa questão?
José Berges – Tem muito malandro por aí desviando metanol e isso não deveria acontecer. Recebemos pedidos de compra de duas mil toneladas de metanol para uma finalidade que nos parece bem capenga e não fazemos venda. Mas tem gente por aí fazendo negócio com metanol desse jeito meio ilegal, que vende para qualquer um sem controle e estrutura. Gostaríamos que a fiscalização fosse um pouco mais efetiva.
BiodieselBR.com – E qual é a vantagem de comprar com vocês e da Methanex de forma direta?
José Berges – Essa é uma questão importante: que valor a gente agrega? Tem clientes cuja demanda não conseguem o volume necessário para compensar uma compra direta do produtor. Então, a gente consegue agregar uma vantagem logística porque temos uma cadeia de distribuição muito bem montada a partir de diversos portos – Paranaguá, Santos e Suape – e, também, um estoque em Mauá (SP). Além disso, fazemos coisas que a Methanex não conseguiria para um número grande de clientes como apresentações de segurança e certificações. A gente consegue dedicar esse tempo para ajudar o cliente.
BiodieselBR.com – O Brasil tem uma limitação de capacidade portuária que está sendo ainda mais pressionada agora em função do aumento da importação de combustível. Essa é uma limitação?
José Berges – A gente não tem enfrentado problema nenhum nesse sentido. Como atuamos em vários portos, não temos tido esse tipo de problema. Uma das fortalezas da quantiQ é que o esquema de importação deles é muito bem montado que se combina com a experiência da GTM em logística naval de graneis líquidos. Creio que teremos uma condição muito vantajosa de competitividade.
BiodieselBR.com – Além de você voltar ao Brasil, a sede da GTM veio junto. Qual a razão para tamanha mudança na empresa?
José Berges – Com a compra da quantiQ, o Brasil passou a representar entre 40% e 50% de nosso mercado. Além disso, a GTM é um grupo empresarial latino-americano e, como estamos mirando um IPO num prazo de dois anos, achamos que a única bolsa de valores nessa região que tem a liquidez e a sofisticação para uma operação desse porte é a de São Paulo. O nosso principal acionista é o fundo Advent International que assumiu o controle da GMT em 2014. E esse IPO faz parte do modelo de negócios deles. Por tudo isso, elas acharam por bem trazer a sede para cá.
Miguel Angelo - BiodieselBR.com
Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com